sexta-feira, 16 de julho de 2010

Pensamentos soltos - I



"O que tem a ver estudar Filosofia hoje?" perguntam os adolescentes do Ensino Médio. Repasso-lhes a seguinte questão: "Tudo aquilo que vivemos hoje, de alguma forma, encontra-se relacionado a Filosofia. O comércio, por exemplo. Sócrates e seus discípulos dialogavam enquanto caminhavam pela Ágora de Atenas, o principal ponto comercial da cidade - uma espécie de shopping center da antiguidade."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Indisciplina em sala de aula

Este trabalho visa apresentar a questão da indisciplina no espaço escolar, seus sujeitos e consequências tanto no contexto escolar, quanto no contexto sócio-cultural de uma forma geral.

O primeiro ponto que nos chama atenção é a definição propriamente dita do que seria a indisciplina dentro do contexto escolar. Não é possível identificarmos apenas um único conceito de indisciplina, pois trata-se de algo necessariamente vinculado a contextos sócio-culturais e a espaço-temporais específicos. Ou seja: o que era considerado um ato extremamente desrespeitoso na capital paulista em 1930 não será, necessariamente, um ato semelhantemente desrespeitoso no mesmo local, na atualidade.

Porém, por conter o processo de ensino-aprendizagem dois sujeitos – professor e estudante – já podemos começar a perceber uma dinâmica interessante: em um grande número de turmas, o professor será “mais velho” do que seus alunos (o que muitas vezes não ocorre em turmas de Educação de Jovens e Adultos - EJA, por exemplo), ocasionando, por vezes, “conflitos de gerações” e saudosismos – traduzidos em exclamações como “no meu tempo tal fato não acontecia assim!” – provocando, por vezes, certo distanciamento na relação professor-aluno.

É interessante notar que, na relação entre estagiários/professores-assistentes (licenciandos) e alunos, há uma maior proximidade, talvez pela menor diferença de idade entre os sujeitos, o que facilita a comunicação e o entendimento entre eles. Semelhante interação ocorre na relação monitores e alunos dentro da Universidade, ambas as relações facilitando o acesso dos alunos ao professor regente da disciplina.

É fato que a escola atual não mais comporta em si mesma todo o conhecimento do mundo. O conhecimento, agora, encontra-se “espalhado” pela rede mundial de computadores (web), à disposição de todos, a qualquer momento.

Se antes íamos à escola em busca de informações e agora temos acesso a todo instante ao conhecimento- basta possuirmos alguns bens de consumo (computador, modem etc) – para que precisamos ir à escola e respeitarmos os costumes tradicionais, especialmente sermos disciplinados em sala de aula? Retomando o que dissemos anteriormente: dentro deste quadro, o que seria indisciplina no contexto escolar?

Alguns pensadores diriam que a indisciplina seria um conjunto de comportamentos que não estão adequados ou dentro dos padrões aceitos por determinada comunidade em um certo espaço e tempo. De acordo com alguns relatos de alunos de escolas do Estado do Rio de Janeiro, há décadas passadas, os alunos deveriam levantar-se na presença do diretor da escola.

Hoje, entretanto, não é o que vemos, a não ser em algumas instituições, como o Colégio Militar do Rio de Janeiro, que mantém algumas tradições e regras como fundamento filosófico do seu próprio Projeto Político-Pedagógico.

Outros pensadores da Educação diriam que a escola é um microcosmos da realidade na qual encontra-se inserida. Portanto, vários comportamentos ali vivenciados na verdade estão sendo revividos, repetidos, recriados, repensados. A escola é o local onde muitas vezes ocorre a socialização do indivíduo e é lá que ele irá experimentar as primeiras interações com o outro. Daí decorre que muitos dos comportamentos que a criança/jovem manifesta em sala de aula não são praticados para agredir aquele professor determinado, mas são tão-somente um reflexo daquilo que os estudantes observam no dia a dia.

É preciso que o professor compreenda a realidade na qual aquela comunidade escolar está inserida: caso seja em uma comunidade violenta, assolada por conflitos ligados a tráfico de drogas, como esperar que os alunos sejam absolutamente passivos diante de tamanha violência? Parece-nos óbvio que este docente terá uma turma com alguns alunos reativos... Por que não aproximar os conteúdos escolares à própria realidade destes alunos?

O trabalho docente deverá trazer elementos que conectem a “vida escolar” a “vida propriamente dita”: a interdisciplinaridade poderá auxiliar esta tarefa, permitindo que o professor conjugue atividades típicas de uma disciplina em outra, como por exemplo, trazer a arte para o estudo das ciências, tornando o estudo de uma disciplina considerada “chata” pelos estudantes, uma atividade lúdica e interessante para eles. O uso de mídias diversas (produção de vídeos, pintura de mural) também constitui uma boa alternativa: a utilização de ferramentas conhecidas ou não pelos alunos poderá estimulá-los a estudar certos conteúdos escolares.

Portanto, nossa sugestão reside no ofício docente: a partir do momento em que o professor conhece a si mesmo e, a partir daí, passa a conhecer/compreender o outro, seu aluno – quem é ele, de onde vem, como ele é, quais os seus interesses, etc – todo o seu trabalho modifica-se. O professor passa a produzir saberes escolares voltados para o aluno, não mais para satisfazer a si próprio ou as suas necessidades acadêmicas.



Bibliografia:

AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

Revista Nova Escola nº 226. Indisciplina. São Paulo: Abril, 2009.